Há coisas maravilhosas e inesquecíveis. Sim, é verdade, há. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de praxe, praxe com o meu curso, em que senti o sabor de ter um baton vermelho na cara com as siglas daquilo a que se viria tornar o meu orgulho. Lembro-me da primeira vez que me disseram ao ouvido ''CURSO?'' e eu, com os pulmões cheios gritei, alto, DIREITO. Mas o eco da minha voz era fraco, tal como os de todos vós que, pela primeira vez, se estreavam na praxe. Subi uma escada de incêndios e gritei, quase do telhado aquilo que me vieram sussurrar ''vá lá acima e grite curso caloira!". Como podia eu esquecer? Não podia, é a verdade, grito até que a voz me doa, e, mesmo quando ela dói e arranha, não vos sei explicar, mas surge em mim uma vontade de gritar ainda mais alto.
Nem sempre fui genial, mas sei, que em todos os momentos, vou dando o melhor de mim. E sinto-me, em quase três meses de praxe, ou dois e meio, sem grandes minuciosidades, que me tornei alguém melhor. Alguém que agora olha para trás antes de continuar a andar; Alguém que aprendeu que devemos orgulhar alguém; Alguém que se for preciso se põe do cimo de uma montanha e grita bem alto, mostrando todo o respeito por aqueles que me criam.
Quando olho para o lado na praxe, não vejo colegas, vejo amigos. Pessoas que me dão a mão, pessoas que rebolam comigo, que rastejam, que se põem de prancha porque simplesmente somos um grupo. Vejo, na praxe, a minha segunda casa, ou melhor ainda, temos os nossos pais que nos vão criando e concebendo como irmãos.
Não há um dia em que eu não goste da praxe, ou que não goste da ideia de poder ter os meus amigos comigo. Ou a sermos lixados, ou a lutarmos para sermos melhores. Contudo, não é agradável ir para a praxe contrariado, ou melhor, ir para a praxe simplesmente porque os outros vão, e porque pronto. A praxe é algo que vem de dentro, é algo que nos toca no coração e nos faz levantar da cama e pensar que não importa andarmos com um kilo de roupa atrás, ou todos sujos, ou todos rotos, ou com umas sapatilhas que cheiram mal, e cheiram mal porque lhes damos uso! Ser caloiro é ir fazer as chaves do colega que chegou perdido de outra terra, porque ele não sabe, e nós até não nos importamos; É leva-lo a casa; É ajudar sempre que alguém fica para trás! E não é ficar só um, ou só dois, é ficarmos todos, mesmo que sejamos poucos! É ficar e pensar ''eu estou aqui por ele, não por mim, por eles, não por mim!" E tenho a certeza, e vos garanto, que todos os que olharem para nós vão dizer ''Eu quero ser daquele curso! Porque naquele curso eles estão ali de alma e coração, eles identificam-se!" E a praxe, amigos, é também isto, identificarmo-nos. E sempre que olharmos para o nosso lado sentirmos um arrepio e vontade de congelar o tempo, vontade de congelar cada momento: Eu quero isto!
Ir para a praxe não é ir para ser baptizado, ou porque é giro, ou porque as pessoas da nossa vida foram. É ir por nós! É sabermos para o que vamos, é resistir, como irmãos. E aos que desistem, não deixarão de ser parte da família, simplesmente, tiveram consciência que ali não era o seu lugar e não perpetuaram a nossa crucificação por eles! Mas nós não nos importamos! E sabem porquê? Porque gostamos todos uns dos outros. Mas os outros também têm que gostar de nós e ir para a praxe de coração cheio, de alma, de voz em eco, até que caiam meteoritos do céu que nos impeçam de continuar!
A todos os que conheci:Doutores, Caloiros um bem-haja! A todos os que nos transmitem, diariamente, uma lição nova, uma vontade nova, um sorriso novo, obrigada! O respeito mostra-se pela voz, tenho a certeza que um dia vocês perceberão aquilo que nós sentimos a cantar o hino, uma vontade de chorar, um arrepio constante, o eco da nossa voz no nosso coração. Eu sinto isso, tenho sentido. Hoje, quando ouvi o hino das vossas vozes, quando senti cada palavra pronunciada por vós, caríssimos doutores, senti que quero continuar, muito mais do que tenho feito, e sinto que todos os que estavam ali, observando os tricórnios no peito, a voz que ecoava nos corações, sentiram um arrepio e se não o sentiram, é porque na verdade não estavam ali.
Dura Praxis, Sed Praxis. Resistir é vencer!